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segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

SONHOS NOVAMENTE COLORIDOS*

Despeço-me do ano. Minhas alegrias, bem como as tristezas, foram numerosas e intensas. Surpreendi-me com ressurreições e chorei mortes; dancei nos salões da felicidade e arrastei-me nos charcos do desgosto; abri os braços para acolher quem voltava e, impotente, vi as costas de quem partia.
Esse foi o ano das desilusões e dos desencantos. E eu espero não misturar esses dois sentimentos. As ilusões não passam de idealizações; os encantamentos, estados de admiração. As ilusões baseiam-se em falsidades, elas são miragens; os encantamentos nascem de apreciações da realidade. As ilusões vestem as nossas mentes de fantasias; os encantamentos veem de percepções claras da vida.
Iludi-me com a nobreza institucional; acreditei piamente que a igreja que me rodeava era "a Igreja" de Jesus – por favor, perceba os "is", minúsculo e maiúsculo. Por anos, dei-me completamente a uma versão do cristianismo que eu percebia como a única, a mais verdadeira, a melhor de todos os tempos. Iludido com essa versão, não notei os ciúmes, as maldades, as invejas, que a motivavam.
Iludi-me com o expansionismo de minha missão. Acreditei no mito moderno do progresso. Eu achava que poderia continuar crescendo numericamente e, ao mesmo tempo, manter o ambiente relacional dos tempos em que me reunia com uma porção de jovens idealistas. Cheguei a pensar que poderia abrir meu coração entre clérigos profissionais com a mesma liberdade que fazia entre os primeiros parceiros de ministério.
Iludi-me com a natureza humana. Acreditei na bondade das pessoas; principalmente, nos que se diziam cheios do Espírito Santo de Deus. Eu imaginava que alguém que transbordasse de Deus não saberia conspirar como Absalão, não conseguiria trair como Judas e seria incapaz de portar-se como um lobo voraz. Ledo engano! Os porões eclesiásticos estão entulhados de cadáveres de gente esfaqueada pelas costas. A história não omite: os corredores das catedrais comportam verdugos e facínoras sequiosos de subirem as hierarquias organizacionais.
De repente, veio a desilusão. As vendas caíram dos olhos e notei o tamanho de minhas fantasias religiosas. Acontece que uma pessoa desiludida nunca mais volta a se iludir. E nesse processo, fui obrigado a separar as desilusões dos desencantamentos. Pois, ao contrário dos desiludidos, os desencantados podem re-encantar-se novamente.
Andei desencantado com minha missão, vocação e devoção. Mas jamais perdi o que inicialmente me deslumbrou no Evangelho. Continuo absolutamente fascinado com a vida de Jesus de Nazaré. E volto a maravilhar-me cada vez que leio sobre seu caráter, sua ternura para com os desvalidos e seu perdão para os pecadores. Sua doação na cruz, sua morte exemplar e a sua ressurreição triunfante, não permitem desencantos.
Em minhas dores cheguei a cogitar que desistiria de tudo, mas não consegui. Continuo acreditando que os valores do Reino de Deus precisam vazar para todas as dimensões do viver humano, sob pena de deixar o mundo se transformar no inferno de Dante. Os valores de justiça, paz e equidade humana, como propostos por Jesus e seus apóstolos, não podem ficar escondidos, mas devem ser proclamados universalmente. Isso é tão magnífico para mim que cura meu coração desiludido, devolve viço à minha poesia melancólica e re-energiza o meu labor.
Nas coisas que me desiludi, não contemplo retorno, mas sei que os meus sonhos voltam a se colorir. Neste novo ano, responderei com novo alento: "eis aqui, envia-me a mim".
Soli Deo Gloria.
Ricardo Gondim
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*Este texto foi escrito pelo Pr. Ricardo Gondim da Igreja Assembléia de Deus Betesda. Publiquei ele pelo fato te comungar com varias idéias que ele apresenta neste texto, além de esta passando por algumas angustias semelhantes (guardando as devidas propoções).

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