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quinta-feira, 14 de julho de 2011

O que realmente importa?

Devocionais da Rede FALE – Coordenação de Oração e Liturgia

Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos?
Mateus 6.28-33

Somos todos dias jogados de um lado para o outro para cumprir aquilo que achamos ser prioridade. Nessa roda viva, descobrimos que somos seres do desejo. Para alguns, os desejos são de realização profissional ou de reconhecimento acadêmico. Para outros, “muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender”.

Há uma gama enorme de anseios, com incontáveis sonhos e vontades dentro de cada um de nós. Todos nos orientam para muito barulho, agitação e compromissos inadiáveis, tornando-se os motores que conduzem nossas agendas pessoais cotidianamente e acabam por nos escravizar. Henri Nouwen afirma que “estar atarefado tornou-se um símbolo de status. As pessoas esperam que estejamos ocupados e que tenhamos muitos assuntos na nossa mente” 1.

Essa disposição mental de estar preocupados em cultuar essa imagem que afetou nossa geração, continua Nouwen, é que “embora atarefados e preocupados com muitas coisas, raramente nos sentimos verdadeiramente realizados, em paz, ou em casa. Um sentimento corrosivo de não realização está sob a superfície das nossas vidas ocupadas. Refletindo um pouco mais sobre esta experiência de não realização, posso discernir diversos sentimentos. Os mais significativos são enfado, ressentimento e depressão” 2.

A evidente “ressaca da alma” de hoje, nada mais é do que o fruto colhido dos falsos sonhos do sistema que nos cerca. Foi corrompido todo desejo humano de satisfação e prazer pelo individualismo, cinismo e descompromisso com um mundo livre de toda opressão. Somos uma geração cansada, insatisfeita, vazia e que se entorpece com o consumismo para aplacar as suas dores existenciais. Consumimos amizades, sexo, carros, eletrônicos e até religião para esquecer toda a falência que somos como indivíduos e sociedade.

Qual o perigo de tudo isso? Esquecer do que realmente importa e qual deve ser o norte de nossas vidas. Fugir de si e da verdadeira razão de sermos humanos. Jogar para debaixo do tapete os sonhos frustrados do mundo e viver um “faz de conta”, onde tudo parece estar no devido lugar, mas com o objetivo de camuflar as dores que latejam no coração, sinal que denuncia nossa falência.

A proposta de Jesus é reorientar nossa caminhada e trazer luz para nossa busca do Reino de Deus e sua Justiça. É lançar toda ansiedade alienante fora e, no encontro pessoal e íntimo com o Criador, ter a consciência dirigida pelo Senhor, que nos leva a buscar a única coisa que interessa: o Reino de Deus e sua justiça.

Esse novo paradigma passa necessariamente pela experiência com Deus, que encharca-nos com o seu amor e ressignifica nossos sonhos e prioridades. É vê-Lo com os olhos marejados de filhos pródigos e abraçados por Ele. Contaminados pela Graça, fluirá de nós rios de água viva, que nos levam a promover a redenção do mundo através da solidariedade, justiça, santa indignação e misericórdia. Nós, outrora embrutecidos pelo mundo, somos libertos do encantamento do sistema pela Paixão de Cristo, que nos salva para sermos plenamente mulheres e homens, feituras dele para as boas obras.

O insistente e doce chamado do Mestre é:

Esqueça toda agitação e preocupação inventada por MAMOM. Entenda que há um Sustentador de todas as coisas e que assim como os passarinhos, deseja acolher você com o afeto maior que uma mãe tem por seu filho recém-nascido. Venha fazer parte do meu Reino que deseja revolucionar as estruturas desse mundo, trazendo esperança e reconciliação para uma humanidade fraturada.

Oração

Pai, ajuda-nos a não perder o foco do Teu Reino. Que Tu reines em nós, pois só assim poderemos manifestar tua vontade para a humanidade perdida. Sacia nossas reais necessidades e nos livre das mentiras que nos alienam de ti e de nós mesmos, em nome de Cristo, Amém!

Notas
1 Nouwen, Henri. Espaço para Deus. São Paulo: Editora Worship Produções.
2 Nouwen, Henri. Espaço para Deus. São Paulo: Editora Worship Produções.

POR UMA FÉ QUE DIALOGA

Cada vez mais tenho certeza que somos uma geração de cristãos que precisa a conjugar o verbo “dialogar”. Por que faço essa declaração? Um dia desses, estava com líderes cristãos, e argumentei que precisamos dialogar com o movimento LGBT pra pensar sobre questões sobre homofobia e a PLC 122/2006, para quem sabe, pudéssemos chegar a um denominador comum, onde todos os direitos, seja por garantia de liberdade religiosa ou de garantia de proteção da vida de homossexuais, fossem garantidos. Logo fui taxado de "apoiador do pecado”, "liberal", entre outras pérolas que tentavam por em cheque minha fé evangélica.

Sem querer entrar no mérito da questão da PLC 122/2006, queremos apenas alertar para o desafio de saber participar com qualidade nos espaços públicos, onde não podemos fugir da realidade concreta que vivemos num mundo plural e que devíamos, como cristãos, interagir socialmente com todos indistintamente, inclusive com a diversidade que há no meio cristão evangélico.

Diálogo não significa que os cristãos precisam abrir mãos de seus valores ou negar sua fé, mas compreender que solo que frutifica a fé é encharcado de amor. O Sacerdócio cristão, que é dada a todos os crentes, nos convoca a pastoreiar o mundo. Pastoreio que não existe sem escuta, cuidado, misericórdia e desejo de ver o bem do outro, mesmo quando ele não queira se converter a nossa fé.

Quando isso não acontece, a igreja vira clube religioso fechado, se torna luz escondida debaixo da mesa, espaço de exclusão e fuga. Igreja só é igreja quando ela não é apenas espaço de refúgio, mas quando sabe que seu espaço de missão é no mundo. Ou nossa missão é no mundo ou simplesmente não somos igreja. E quando não fazemos nossa missão no mundo, só servimos para ser pisados pelos homens, como bem disse Cristo.

O próprio Jesus é alguém que não oferece respostas prontas, mas é capaz de dialogar com a mulher do poço, abraçar crianças, dar atenção a cegos, leprosos e samaritanos, ou tomar "cafezinho" na casa de um cobrador de impostos corrupto. Até com ladrões que estão sendo crucificados junto com Ele, "deu uma ideia" com esses! Para cada uma dessas experiências narradas na Bíblia, Jesus é capaz de fazer conexões e pontes para tornar sua proclamação relevante, sempre falando para corações em mente. Jesus esteve no mundo para a vida! Tinha consciência de não fazer acepção de pessoas não era a rota que norteava seus pés. Muito pelo contrário! Pedagogicamente, seus atos eram meios para incluir aqueles que não tinham voz ou vez.

Infelizmente, creio que essa postura não dialógica é o que torna nossa comunicação do evangelho uma pedra de tropeço para a proclamação do Reino. Somos filhos de Deus, não donos da verdade ou pecadores melhores que outros. A cruz de Cristo nos iguala a uma mesma condição e cabe aqueles que dizem ser discípulos dEle, serem os primeiros a viver o exercício da misericórdia e do amor encarnacional. A encarnação nos leva pros becos, ruas, praças e periferias de nossas cidades. Em contrapartida, uma fé sorumbática é aquela que não consegue refletir as grandes questões do nosso tempo, mas fica na defensiva, por medo ou por interesses de ter hegemonia na marra.

O resultado final é que grupos como os LGBT cada vez mais se afastam de nós e nutrem uma postura belicosa. Não cabe aqui questionar a postura belicosa desses grupos, mas o quanto nossa incapacidade gera mau testemunho e mantém as pessoas alienadas de nós e do Deus que dizemos servir. Pior é constatar que mal conseguimos conviver respeitosamente com a diversidade mesmo do Corpo de Cristo, já que é nítida nossa dificuldade de viver em unidade.
Em suma: Façamos nossa parte. Sejamos uma Igreja Amorosa, que aprende a ouvir, dialogar e interagir com o mundo. Igreja que faz diferença pela sua presença iluminadora e comprometida com a revolução do novo nascimento. Que ama e é capaz de dar a vida para salvar o mundo!

Em Cristo, que inclui todos no seu amor.

Caio Marçal
Sec. De Moblização da Rede FALE – www.fale.org.br