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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A formação de discípulos (parte 3)

René Padilla

A meta na formação de discípulos é que eles aprendam a obedecer a tudo o que Jesus Cristo ordenou a seus próprios discípulos. Como vimos, sem a obediência à vontade de Deus, revelada em Jesus Cristo, não há discipulado cristão verdadeiro. Como diz Jesus: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7.21).

Assim, quando Jesus comissiona discípulos, mandando que façam discípulos que aprendam a obedecer “tudo o que ele lhes mandou”, ele pressupõe que há um conjunto de ensinamentos que eles receberam dele e têm a responsabilidade de transmitir à nova geração de discípulos. A pergunta é: a que conjunto de ensinamentos Jesus se refere?

Uma forma de responder é considerar o ensinamento de Jesus nos quatro Evangelhos, especialmente em Mateus, que registra a versão da Grande Comissão citando o que Jesus ordenou a seus discípulos. Mateus inclui cinco discursos de Jesus: o Sermão do Monte (capítulos 5 a 7), o discurso sobre a missão (capítulo 10), o discurso de parábolas (capítulo 13), o discurso sobre a disciplina na igreja (capítulo 18) e o discurso de despedida de Jerusalém (capítulos 23 a 25). Todos são concluídos com alguma variante da mesma frase: “Quando Jesus acabou de proferir estas palavras...” (7.28; 11.1; 13.53; 19.1; 26.1). Dos cinco discursos, o do Sermão do Monte é o que enfoca mais diretamente o ensinamento ético de Jesus. É provável que a igreja do primeiro século o tenha usado como um manual de instrução para os novos crentes de origem judaica, a fim de conseguir que a justiça deles exceda em muito a dos escribas e fariseus (Mt 5.20). Ou, em outras palavras, a fim de fazer os cristãos colocarem em prática a justiça de Jesus Cristo, já que, como afirma Dietrich Bonhoeffer: “A ação segundo Cristo não se origina em algum princípio ético, mas na própria pessoa de Jesus Cristo”, a Palavra de Deus feita carne.

A importância que a igreja do primeiro século deu ao que Jesus ensinou a seus discípulos é vista ao longo do Novo Testamento. Não há espaço para aprofundar o tema, mas basta notar que os milhares que foram batizados e se uniram à igreja em Jerusalém, como resultado de Pentecostes, se dedicaram ao “ensinamento dos apóstolos” (ou seja, ao ensinamento que os apóstolos haviam recebido de Jesus), junto com a comunhão, o partir do pão e a oração (At 2.42). O apóstolo Paulo se refere a esse mesmo ensinamento quando, anos depois, dá graças a Deus porque os crentes romanos já vieram a “obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues” (Rm 6.17). E também quando exorta aos crentes colossenses a que “como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças” (Cl 2.6). Em ambos os casos, o apóstolo considera que há uma tradição apostólica cuja origem remonta a Jesus Cristo, uma tradição que se transmite e se recebe, e que serve como meio de edificação para os discípulos.

A missão da igreja é fiel ao propósito de Deus na medida em que se dirige à formação de discípulos que encarnem na vida diária o que Jesus Cristo ensinou a seus discípulos, ou seja, a tradição apostólica estabelecida no Novo Testamento para a formação de discípulos em todas as nações até o fim da história.

Traduzido por Wagner Guimarães

C. René Padilla é fundador e presidente da Rede Miqueias, e membro-fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana e da Fundação Kairós. É autor de O Que É Missão Integral?.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/329/a-formacao-de-discipulos-parte-3/Miss%E3o+Integral

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